Mentaótico

Ótica mental cheia de hortelã!


O cheiro da pólvora não foi capaz de apagar aquele sorriso. O denso odor da carne queimada pelo tiro a queima roupa não foi sólido o bastante pra desfazer o sorriso que brotou do lábio carmim. O sangue escarlate, que estragava o papel de parede, estragava o carpete e deixava marcas em seus sapatos parecia conversar com a cor daqueles lábios que sorriam a meia-luz. No quarto, agora inundado pelo sangue que a morte recolhia em frascos decorados, ela sentou-se na cama, escorregando nos lençóis de cetim que ainda recendiam ao amor das loucas noites de verão. Olhou para o corpo no chão, estirado. Deixou que uma lágrima brotasse de seu olho esquerdo e tocasse a carne dos lábios que não eram os únicos a beijar a boca do morto. Deixou que a gota pingasse nas coxas que já não podiam mais segurar seus ventres apertados, enquanto sem fôlego ela urrava os berros do bicho traído, da mulher trocada, da esposa atenciosa, da amante dispensada. E deixou que sua boca, que era lábios e dentes e fogo e amor tornasse ao sorriso limitado pelo vermelho, que era sangue e batom e amor e fogo. Sorriu vingada. Prendeu a arma de volta a coxa, levantou-se, arrumou os seios no sutiã de renda, olhou-se no espelho, limpou a lágrima.

“Viúvo é quem morre” foi o que pensou ao fechar a porta do quarto e ganhar as ruas sorrindo para a lua que recitava poesias em seu ouvido.

Vermelho


O cheiro da pólvora não foi capaz de apagar aquele sorriso. O denso odor da carne queimada pelo tiro a queima roupa não foi sólido o bastante pra desfazer o sorriso que brotou do lábio carmim. O sangue escarlate, que estragava o papel de parede, estragava o carpete e deixava marcas em seus sapatos parecia conversar com a cor daqueles lábios que sorriam a meia-luz. No quarto, agora inundado pelo sangue que a morte recolhia em frascos decorados, ela sentou-se na cama, escorregando nos lençóis de cetim que ainda recendiam ao amor das loucas noites de verão. Olhou para o corpo no chão, estirado. Deixou que uma lágrima brotasse de seu olho esquerdo e tocasse a carne dos lábios que não eram os únicos a beijar a boca do morto. Deixou que a gota pingasse nas coxas que já não podiam mais segurar seus ventres apertados, enquanto sem fôlego ela urrava os berros do bicho traído, da mulher trocada, da esposa atenciosa, da amante dispensada. E deixou que sua boca, que era lábios e dentes e fogo e amor tornasse ao sorriso limitado pelo vermelho, que era sangue e batom e amor e fogo. Sorriu vingada. Prendeu a arma de volta a coxa, levantou-se, arrumou os seios no sutiã de renda, olhou-se no espelho, limpou a lágrima.

“Viúvo é quem morre” foi o que pensou ao fechar a porta do quarto e ganhar as ruas sorrindo para a lua que recitava poesias em seu ouvido.

Ótica mental cheia de hortelã!

Café forte e sem açúcar!