Mentaótico

Ótica mental cheia de hortelã!

Levou. Levou consigo tudo que pode num só gesto. Em poucas palavras. E não podia nem saber se realmente se importou. Mas levou. De uma só vez arrancou as ervas e costurou os cortes. Cessou o sangramento. Assim, desse jeito, como quem esbarra o estranho na rua, passou e saiu.

Não gritou. Talvez não tivesse mais força para. Nem chorou, não queria, não sentia. Carregou o peso que levantou e saiu. Com a cabeça erguida e um cigarro na mão direita ele andou e atravessou todas as portas. As que estavam fechadas ele não precisou estourar, mas faria o necessário, faria o que fosse preciso.

Caminhou firme pelos corredores retirou dali tudo que era seu. Pesado, ele andou leve em seus passos duros, marcados e compassados, sem olhar pra trás, sem deixar que o arrependimento sombreasse seu olhar e balançasse suas pernas. Mirou a sua frente e quando bateu a última porta atrás de si sorriu sincero para a calçada.

Não olharia mais com medo para o espelho. Não teria mais nenhum inimigo do outro lado, não se machucaria mais com a visão do que havia se tornado. Por último, deixou todos seus fardos no lixo de qualquer vizinho. Libertou-se.

Viver é uma sentença de morte. É se matar, um pouco a cada dia, deixando lascas e pedaços de tudo que você é, de tudo que você foi. Viver é entregar-se a dor e senti-lá, deixar ela queimar as veias e bombear negra as têmporas em um desespero sufocante.

A fumaça queima as narinas e o tabaco é incapaz de livrá-lo dos demônios que o assombram. Em silêncio olhando as estrelas, ele procura em qual delas poderia pousar, qual estaria longe o bastante que o fizesse já não sentir.

As 80 batidas por minuto, tão constantes e tão estáveis já não se sentem. O coração é a pedra gelada enterrada tão fundo no peito. Ele anseia pelas lágrimas que exaustas já não saem e busca dentro de si um pouco de alívio na pessoa que um dia foi. Não se dá o direito de arrepender-se do que é, pois está exatamente onde quis chegar, mas agora já não sabe mais o que será.

O homem em formação que ainda procura dentro de si o menino que agora parece morto, engolido pela vida e por um mundo que sem ter um fim anunciado vive o fim dos tempos desde que qualquer tempo decidiu passar. Socorrendo a si mesmo tenta evitar que o sabor metálico preso aos dentes torne-se um amargor profundo.

Ainda em silêncio ele grita por ajuda e no escuro conta apenas com suas próprias mãos.

Sangria

Levou. Levou consigo tudo que pode num só gesto. Em poucas palavras. E não podia nem saber se realmente se importou. Mas levou. De uma só vez arrancou as ervas e costurou os cortes. Cessou o sangramento. Assim, desse jeito, como quem esbarra o estranho na rua, passou e saiu.

Não gritou. Talvez não tivesse mais força para. Nem chorou, não queria, não sentia. Carregou o peso que levantou e saiu. Com a cabeça erguida e um cigarro na mão direita ele andou e atravessou todas as portas. As que estavam fechadas ele não precisou estourar, mas faria o necessário, faria o que fosse preciso.

Caminhou firme pelos corredores retirou dali tudo que era seu. Pesado, ele andou leve em seus passos duros, marcados e compassados, sem olhar pra trás, sem deixar que o arrependimento sombreasse seu olhar e balançasse suas pernas. Mirou a sua frente e quando bateu a última porta atrás de si sorriu sincero para a calçada.

Não olharia mais com medo para o espelho. Não teria mais nenhum inimigo do outro lado, não se machucaria mais com a visão do que havia se tornado. Por último, deixou todos seus fardos no lixo de qualquer vizinho. Libertou-se.

Saída

Viver é uma sentença de morte. É se matar, um pouco a cada dia, deixando lascas e pedaços de tudo que você é, de tudo que você foi. Viver é entregar-se a dor e senti-lá, deixar ela queimar as veias e bombear negra as têmporas em um desespero sufocante.

A fumaça queima as narinas e o tabaco é incapaz de livrá-lo dos demônios que o assombram. Em silêncio olhando as estrelas, ele procura em qual delas poderia pousar, qual estaria longe o bastante que o fizesse já não sentir.

As 80 batidas por minuto, tão constantes e tão estáveis já não se sentem. O coração é a pedra gelada enterrada tão fundo no peito. Ele anseia pelas lágrimas que exaustas já não saem e busca dentro de si um pouco de alívio na pessoa que um dia foi. Não se dá o direito de arrepender-se do que é, pois está exatamente onde quis chegar, mas agora já não sabe mais o que será.

O homem em formação que ainda procura dentro de si o menino que agora parece morto, engolido pela vida e por um mundo que sem ter um fim anunciado vive o fim dos tempos desde que qualquer tempo decidiu passar. Socorrendo a si mesmo tenta evitar que o sabor metálico preso aos dentes torne-se um amargor profundo.

Ainda em silêncio ele grita por ajuda e no escuro conta apenas com suas próprias mãos.

Ótica mental cheia de hortelã!

Café forte e sem açúcar!