Acho que sempre erro nas minhas expressões. Não consigo me expressar como queria, faço parecer errado, faço parecer grosso. Se tenho alguma culpa, é nisso. Mas eu tentei me explicar, eu tentei mostrar o meu lado, tentei deixar as coisas pelo menos um pouco mais claras. Só que vocês teimam em não ouvir, vocês já me enquadraram num gabarito que não me encaixo, num padrão que não é real. Eu não sou desse jeito que vocês enxergam, não sou melhor do que isso e muito menos sou pior do que isso. Mas não sou isso.
Porque não faz sentido a gente fingir agora que tá tudo bem amor. Esquecer as mágoas dos meses que fugiram e sorrir bobo desejando felicidade. Não faz sentido.
Esse não foi um ano fácil. Deus sabe que não. Começou e terminou com incertezas. O menino que entrou o ano pensando na vida, passou o ano confrontando o homem que já deu os primeiros passos num caminho sem volta. Esse menino aprendeu a se virar, a fazer arroz, temperar carne. Aprendeu a perguntar onde fica, aprendeu a encontrar aquilo que precisava. Tentou aprender a lidar com o dinheiro, mas esse ainda parece um bicho complicado de se dominar.
Só nasci pra fazer as coisas sozinho, pra ser assim eu mesmo. Porque não posso me importar sem retirar espinhos e cravá-los em mim. Se me preocupo, me perco. Não posso seguir em frente pensando em lágrimas que caem por mim, então é melhor que elas não cheguem a cair.
E me ver de novo como um grande pedaço de nada no sofá já não é tão incomodo. Não é reconfortante me pegar assim de novo, morto, em pedaços estilhaçados pelo chão da sala, mas já não dói como doeu no começo. Me acostumei a empurrar os cacos pro lado, ou a deixá-los exatamente onde estavam, já não mereço mais a auto-piedade do garoto que se culpava, nem posso carregar o orgulho do homem que acredita que fez tudo certo.