Mentaótico

Ótica mental cheia de hortelã!

A morte aguardava paciente, sentada na porta do quarto. Às vezes levantava-se, olhava pela janela. Ele, moribundo, jogado na cama retorcia-se com seus pesadelos finais. Já sentia o cheiro do corpo podre. Nos lençóis, nas paredes. Já podia ver os insetos deixando seus buracos, se preparando para o banquete da carne que um dia já fora bela, já fora suave. Tosse de novo, contorciona-se mais uma vez. Pergunta-se se depois de tanto sofrimento ainda teria pecados a pagar quando chegar no céu. Pergunta-se se realmente vai chegar no céu. Não pensa mais no passado. E nem no futuro. Ali, naquela cama suja, naquele corpo fétido, ele liga o passado e o futuro. Ali, naquele quarto escuro, o tempo já não é mais importante, o passado é uma sombra de luxúria e arrogância, o futuro já não existe. Seco, já não chora e nem se desespera. Aguarda o último suspiro enquanto conversa com os demônios, enquanto mata baratas. Sente-se nada. Não tem mais histórias a contar. A porta finalmente bate. Ele já sabe quem é. "- Entra!". Ela entra. O cômodo enche-se com o peso de mil almas. Ele sorri, respira numa tentativa boba de se lembrar o que é a vida. Ela senta ao seu lado. Ele reclama. "- Se demorasse mais um pouco, teria de cuidar disso sozinho.". Ela se desculpa, diz que tudo vem ao seu tempo. Ele se acalma e se permite. Compreende então a verdade. Toda a verdade. Seco, agora chora. Ela finalmente lhe dá um beijo. Ele fecha os olhos. E já não os abre mais. Ela seca a lágrima do rosto dele e deixa o cômodo.

Não nasceu pra ser um casal. Sozinho chegou ao mundo e era assim que gostava. Não gostava do toque quente, nem do abraço, nem do colchão apertado. Gostava do espaço e daquela margem de segurança que tinha criado ao seu redor. Estar distante, olhando o show do alto, sentado na grande poltrona sem ninguém no colo. Tremia de pavor só de pensar em ser sufocado, em ser abafado, em ser contido numa vida a dois. Queria uma vida a um, um que fosse pleno, um que fosse ele.

Arredio e desarrumado balançava as pernas de modo frenético, impaciente. Irritado e incontestavelmente mal humorado assumia que havia sido feito para si. Compreendia suas manias e se dava bem com suas vontades. Não se importava em usar a bermuda rasgada, ou com seu bafo de nicotina envelhecida. Sóbrio ou não, podia entrar em mil batalhas consigo mesmo e ainda se perdoar. E ainda beber mais um copo. E ainda sorrir falso pro espelho.

E era tão simples ser assim que não entendia porque não deveria ser. Por que tinha que andar de mãos dadas? Por que tinha que sentar abraçado no cinema? Por que tinha que escolher alguém e dar todo amor que foi tão difícil tirar do coração? Não sabia e talvez nunca descobrisse.

Ilusão. Ilusão foi o que me deu quando achei que existia beleza pela metade, quando achei que beleza era um ponto e não o jogo todo. Fui ingênuo e inocente acreditando em um mundo de imperfeições. Não, não aqui, não no nosso tempo. Não vivemos pelas imperfeições. Vagamos por um mundo de faminta miséria e é o tempo todo sobre ser inteiro, sobre ser completo, sobre ser perfeitamente bonito. E perseguimos estereótipos inconscientes da nossa própria nudez. E a nudez choca porque se despe de valores, a nudez choca porque uma pilha de roupas é só uma pilha de roupas. Uma pilha de roupas não veste o sucesso. A nudez não se veste de nada.

A morte aguardava paciente, sentada na porta do quarto. Às vezes levantava-se, olhava pela janela. Ele, moribundo, jogado na cama retorcia-se com seus pesadelos finais. Já sentia o cheiro do corpo podre. Nos lençóis, nas paredes. Já podia ver os insetos deixando seus buracos, se preparando para o banquete da carne que um dia já fora bela, já fora suave. Tosse de novo, contorciona-se mais uma vez. Pergunta-se se depois de tanto sofrimento ainda teria pecados a pagar quando chegar no céu. Pergunta-se se realmente vai chegar no céu. Não pensa mais no passado. E nem no futuro. Ali, naquela cama suja, naquele corpo fétido, ele liga o passado e o futuro. Ali, naquele quarto escuro, o tempo já não é mais importante, o passado é uma sombra de luxúria e arrogância, o futuro já não existe. Seco, já não chora e nem se desespera. Aguarda o último suspiro enquanto conversa com os demônios, enquanto mata baratas. Sente-se nada. Não tem mais histórias a contar. A porta finalmente bate. Ele já sabe quem é. "- Entra!". Ela entra. O cômodo enche-se com o peso de mil almas. Ele sorri, respira numa tentativa boba de se lembrar o que é a vida. Ela senta ao seu lado. Ele reclama. "- Se demorasse mais um pouco, teria de cuidar disso sozinho.". Ela se desculpa, diz que tudo vem ao seu tempo. Ele se acalma e se permite. Compreende então a verdade. Toda a verdade. Seco, agora chora. Ela finalmente lhe dá um beijo. Ele fecha os olhos. E já não os abre mais. Ela seca a lágrima do rosto dele e deixa o cômodo.
Não nasceu pra ser um casal. Sozinho chegou ao mundo e era assim que gostava. Não gostava do toque quente, nem do abraço, nem do colchão apertado. Gostava do espaço e daquela margem de segurança que tinha criado ao seu redor. Estar distante, olhando o show do alto, sentado na grande poltrona sem ninguém no colo. Tremia de pavor só de pensar em ser sufocado, em ser abafado, em ser contido numa vida a dois. Queria uma vida a um, um que fosse pleno, um que fosse ele.

Arredio e desarrumado balançava as pernas de modo frenético, impaciente. Irritado e incontestavelmente mal humorado assumia que havia sido feito para si. Compreendia suas manias e se dava bem com suas vontades. Não se importava em usar a bermuda rasgada, ou com seu bafo de nicotina envelhecida. Sóbrio ou não, podia entrar em mil batalhas consigo mesmo e ainda se perdoar. E ainda beber mais um copo. E ainda sorrir falso pro espelho.

E era tão simples ser assim que não entendia porque não deveria ser. Por que tinha que andar de mãos dadas? Por que tinha que sentar abraçado no cinema? Por que tinha que escolher alguém e dar todo amor que foi tão difícil tirar do coração? Não sabia e talvez nunca descobrisse.
Ilusão. Ilusão foi o que me deu quando achei que existia beleza pela metade, quando achei que beleza era um ponto e não o jogo todo. Fui ingênuo e inocente acreditando em um mundo de imperfeições. Não, não aqui, não no nosso tempo. Não vivemos pelas imperfeições. Vagamos por um mundo de faminta miséria e é o tempo todo sobre ser inteiro, sobre ser completo, sobre ser perfeitamente bonito. E perseguimos estereótipos inconscientes da nossa própria nudez. E a nudez choca porque se despe de valores, a nudez choca porque uma pilha de roupas é só uma pilha de roupas. Uma pilha de roupas não veste o sucesso. A nudez não se veste de nada.

Ótica mental cheia de hortelã!

Café forte e sem açúcar!