Mentaótico

Ótica mental cheia de hortelã!

Andava na rua de novo. Com seu tênis branco e encardido, com sua bermuda suja, camiseta arrumada, cabelo desgrenhado, barba por fazer. Mochila vazia presa nas costas. Andava apressado, com os passos de quem quer sair correndo e não quer parar mais, passos de quem se imaginava Forrest.


Passos rápidos, agéis. Desviava das árvores, embaixo dos pingos de chuva. Pulava as poças, atolava o pé no barro. Imaginava situações que o livrassem daquela vida cavocada na penumbra. Prestava atenção nos postes que apagavam e contava o tempo até que se iluminassem. Esperava que o sequestrassem, esperava ser roubado, esperava que lhe oferecessem sexo. Acelerava o passo.

Sabia que andava mais rápido que o necessário. Sabia que adiantava o momento de chegar em qualquer lugar, ainda que nunca quisesse chegar em lugar nenhum. Não corria, não gostava de correr, mas acelerava o passo, acelerava cada movimento muscular que o levasse um metro mais a frente, um metro além de qualquer demônio. Fugia.

Sentia-se livre ali na rua. Sentia-se dono de uma vida que não podia perseguir, por mais que ainda caminhasse. Essa vida que deteriorava em seus sonhos, vida que via pior, que imaginava diferente, que criava irresponsavelmente.

Olhava para os carros e se via atropelado, tripas coladas no asfalto. Fêmur fraturado, crânio despedaçado. Voltava-se para a calçada. Não queria aquilo e ria de si mesmo. Prestava atenção em seus cadarços e desviava das riscas do chão invocando antigos mitos. Revia mentalmente sua agenda, amaldiçoava mais uma vez, amigos, família, seus cachorros.

Respirava e lançava-se em outro passo no escuro. Só sabia seguir.

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Sobre você

Andava na rua de novo. Com seu tênis branco e encardido, com sua bermuda suja, camiseta arrumada, cabelo desgrenhado, barba por fazer. Mochila vazia presa nas costas. Andava apressado, com os passos de quem quer sair correndo e não quer parar mais, passos de quem se imaginava Forrest.

Passos rápidos, agéis. Desviava das árvores, embaixo dos pingos de chuva. Pulava as poças, atolava o pé no barro. Imaginava situações que o livrassem daquela vida cavocada na penumbra. Prestava atenção nos postes que apagavam e contava o tempo até que se iluminassem. Esperava que o sequestrassem, esperava ser roubado, esperava que lhe oferecessem sexo. Acelerava o passo.

Sabia que andava mais rápido que o necessário. Sabia que adiantava o momento de chegar em qualquer lugar, ainda que nunca quisesse chegar em lugar nenhum. Não corria, não gostava de correr, mas acelerava o passo, acelerava cada movimento muscular que o levasse um metro mais a frente, um metro além de qualquer demônio. Fugia.

Sentia-se livre ali na rua. Sentia-se dono de uma vida que não podia perseguir, por mais que ainda caminhasse. Essa vida que deteriorava em seus sonhos, vida que via pior, que imaginava diferente, que criava irresponsavelmente.

Olhava para os carros e se via atropelado, tripas coladas no asfalto. Fêmur fraturado, crânio despedaçado. Voltava-se para a calçada. Não queria aquilo e ria de si mesmo. Prestava atenção em seus cadarços e desviava das riscas do chão invocando antigos mitos. Revia mentalmente sua agenda, amaldiçoava mais uma vez, amigos, família, seus cachorros.

Respirava e lançava-se em outro passo no escuro. Só sabia seguir.

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Ótica mental cheia de hortelã!

Café forte e sem açúcar!