A brasa acesa no escuro recortado pelo quadrado da janela. Era um samba todo, queimando em fumaça branca contrastada no vermelho, forte, poderoso, que radiava de seus cabelos, de sua boca, daquele falso ódio delirando num sorriso irônico. Acordes, notas. Sopro de palavras mudas, silenciadas numa ignorância mútua. Era uma ópera toda, tocada com ênfase, cansada até o último momento, dedilhada num enlace de amores alcoolizados, paixões gravadas em ventanias ao pé de escadarias.
Aquele recorte na janela, beleza fotografada em um olhar sonolento, soprada com a fumaça de outro cigarro, com o fundo de outro copo. Era o relógio grudado torto na parede. Aquele descompasso de minutos e segundos e anos que não voltavam e nem correriam a vontade de quem os vivencia.
Não desenhou. Das linhas que viu só pode ficar com as cores e nem tocou, porque já era tarde, já era madrugada, já era silêncio. Nem tocou, porque do violão só tirava o mi. Nem dó saia dali.
Desce da janela. Calça os sapatos. Abre a porta que já abriu antes. Cruza a cozinha que já cruzou antes. Pisa nas folhas secas da árvore que caduca com o inverno que se aproxima irremediável em um futuro onde essa cena já não vai se repetir. Ele deixa ela ir. Deixa porque precisa, mas sem ter a certeza de que quer. E ela vai, decidida.
Pisa na calçada e fraqueja. Ele sobe as escadas e espera.
Não voltam mais. A janela é fechada e a cena tenta se desfazer, assim como as folhas serão varridas e como a árvore em breve será só galhos. Não que eles não se desejem e não que o cigarro apagado tenha sido o último do maço, mas já é tempo de enfrentarem a si mesmos sozinhos.
Vão lá, ouvir suas músicas... ninguém pode sair de mero espectador agora.
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Guii
Dos cigarros no cinzeiro
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Guii
on quinta-feira, 5 de abril de 2012
A brasa acesa no escuro recortado pelo quadrado da janela. Era um samba todo, queimando em fumaça branca contrastada no vermelho, forte, poderoso, que radiava de seus cabelos, de sua boca, daquele falso ódio delirando num sorriso irônico. Acordes, notas. Sopro de palavras mudas, silenciadas numa ignorância mútua. Era uma ópera toda, tocada com ênfase, cansada até o último momento, dedilhada num enlace de amores alcoolizados, paixões gravadas em ventanias ao pé de escadarias.
Aquele recorte na janela, beleza fotografada em um olhar sonolento, soprada com a fumaça de outro cigarro, com o fundo de outro copo. Era o relógio grudado torto na parede. Aquele descompasso de minutos e segundos e anos que não voltavam e nem correriam a vontade de quem os vivencia.
Não desenhou. Das linhas que viu só pode ficar com as cores e nem tocou, porque já era tarde, já era madrugada, já era silêncio. Nem tocou, porque do violão só tirava o mi. Nem dó saia dali.
Desce da janela. Calça os sapatos. Abre a porta que já abriu antes. Cruza a cozinha que já cruzou antes. Pisa nas folhas secas da árvore que caduca com o inverno que se aproxima irremediável em um futuro onde essa cena já não vai se repetir. Ele deixa ela ir. Deixa porque precisa, mas sem ter a certeza de que quer. E ela vai, decidida.
Pisa na calçada e fraqueja. Ele sobe as escadas e espera.
Não voltam mais. A janela é fechada e a cena tenta se desfazer, assim como as folhas serão varridas e como a árvore em breve será só galhos. Não que eles não se desejem e não que o cigarro apagado tenha sido o último do maço, mas já é tempo de enfrentarem a si mesmos sozinhos.
Vão lá, ouvir suas músicas... ninguém pode sair de mero espectador agora.
Aquele recorte na janela, beleza fotografada em um olhar sonolento, soprada com a fumaça de outro cigarro, com o fundo de outro copo. Era o relógio grudado torto na parede. Aquele descompasso de minutos e segundos e anos que não voltavam e nem correriam a vontade de quem os vivencia.
Não desenhou. Das linhas que viu só pode ficar com as cores e nem tocou, porque já era tarde, já era madrugada, já era silêncio. Nem tocou, porque do violão só tirava o mi. Nem dó saia dali.
Desce da janela. Calça os sapatos. Abre a porta que já abriu antes. Cruza a cozinha que já cruzou antes. Pisa nas folhas secas da árvore que caduca com o inverno que se aproxima irremediável em um futuro onde essa cena já não vai se repetir. Ele deixa ela ir. Deixa porque precisa, mas sem ter a certeza de que quer. E ela vai, decidida.
Pisa na calçada e fraqueja. Ele sobe as escadas e espera.
Não voltam mais. A janela é fechada e a cena tenta se desfazer, assim como as folhas serão varridas e como a árvore em breve será só galhos. Não que eles não se desejem e não que o cigarro apagado tenha sido o último do maço, mas já é tempo de enfrentarem a si mesmos sozinhos.
Vão lá, ouvir suas músicas... ninguém pode sair de mero espectador agora.
4 comentários:
- Rosana disse...
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voltou *-*
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14 de abril de 2012 às 11:40
- Nada Sobre Tudo de Veludo disse...
- Este comentário foi removido pelo autor.
-
22 de agosto de 2012 às 02:10
- Nada Sobre Tudo de Veludo disse...
- Este comentário foi removido pelo autor.
-
12 de setembro de 2012 às 00:16
- Nada Sobre Tudo de Veludo disse...
- Este comentário foi removido pelo autor.
-
12 de setembro de 2012 às 15:37
4 comentários:
voltou *-*
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