A morte aguardava paciente, sentada na porta do quarto. Às vezes levantava-se, olhava pela janela. Ele, moribundo, jogado na cama retorcia-se com seus pesadelos finais. Já sentia o cheiro do corpo podre. Nos lençóis, nas paredes. Já podia ver os insetos deixando seus buracos, se preparando para o banquete da carne que um dia já fora bela, já fora suave. Tosse de novo, contorciona-se mais uma vez. Pergunta-se se depois de tanto sofrimento ainda teria pecados a pagar quando chegar no céu. Pergunta-se se realmente vai chegar no céu. Não pensa mais no passado. E nem no futuro. Ali, naquela cama suja, naquele corpo fétido, ele liga o passado e o futuro. Ali, naquele quarto escuro, o tempo já não é mais importante, o passado é uma sombra de luxúria e arrogância, o futuro já não existe. Seco, já não chora e nem se desespera. Aguarda o último suspiro enquanto conversa com os demônios, enquanto mata baratas. Sente-se nada. Não tem mais histórias a contar. A porta finalmente bate. Ele já sabe quem é. "- Entra!". Ela entra. O cômodo enche-se com o peso de mil almas. Ele sorri, respira numa tentativa boba de se lembrar o que é a vida. Ela senta ao seu lado. Ele reclama. "- Se demorasse mais um pouco, teria de cuidar disso sozinho.". Ela se desculpa, diz que tudo vem ao seu tempo. Ele se acalma e se permite. Compreende então a verdade. Toda a verdade. Seco, agora chora. Ela finalmente lhe dá um beijo. Ele fecha os olhos. E já não os abre mais. Ela seca a lágrima do rosto dele e deixa o cômodo.
Postado por
Guii
on quinta-feira, 19 de setembro de 2013
A morte aguardava paciente, sentada na porta do quarto. Às vezes levantava-se, olhava pela janela. Ele, moribundo, jogado na cama retorcia-se com seus pesadelos finais. Já sentia o cheiro do corpo podre. Nos lençóis, nas paredes. Já podia ver os insetos deixando seus buracos, se preparando para o banquete da carne que um dia já fora bela, já fora suave. Tosse de novo, contorciona-se mais uma vez. Pergunta-se se depois de tanto sofrimento ainda teria pecados a pagar quando chegar no céu. Pergunta-se se realmente vai chegar no céu. Não pensa mais no passado. E nem no futuro. Ali, naquela cama suja, naquele corpo fétido, ele liga o passado e o futuro. Ali, naquele quarto escuro, o tempo já não é mais importante, o passado é uma sombra de luxúria e arrogância, o futuro já não existe. Seco, já não chora e nem se desespera. Aguarda o último suspiro enquanto conversa com os demônios, enquanto mata baratas. Sente-se nada. Não tem mais histórias a contar. A porta finalmente bate. Ele já sabe quem é. "- Entra!". Ela entra. O cômodo enche-se com o peso de mil almas. Ele sorri, respira numa tentativa boba de se lembrar o que é a vida. Ela senta ao seu lado. Ele reclama. "- Se demorasse mais um pouco, teria de cuidar disso sozinho.". Ela se desculpa, diz que tudo vem ao seu tempo. Ele se acalma e se permite. Compreende então a verdade. Toda a verdade. Seco, agora chora. Ela finalmente lhe dá um beijo. Ele fecha os olhos. E já não os abre mais. Ela seca a lágrima do rosto dele e deixa o cômodo.
1 comentários:
- Nada Sobre Tudo de Veludo disse...
- Este comentário foi removido pelo autor.
-
20 de setembro de 2013 às 14:31
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