Mentaótico

Ótica mental cheia de hortelã!

E ela sabia que podia ser melhor. Acordava todo dia, se via no espelho e acreditava. Sentia que não tinha se perdido, sentia tanta coisa. Nos últimos dias sentia mais. Se via mais. Como podia se odiar tanto? Como sentir aquele gosto amargo e não morrer?

Se questionava, duvidava. Aquele veneno nos pensamentos. Aquelas ideias doentias. Não, não. Não eram doentias. Se a fizessem melhor, como poderiam ser doentias? Mas sentia raiva e embaixo desse véu tudo parecia um pouco mais terrível, um pouco mais caótico.

Não foram seus relacionamentos que a tornaram assim. Não foram seus pais, não foi sua família. Não foi falta de dinheiro, nem talvez tenha sido falta de carinho. Não era falta de sexo e nem falta de humor. Era ela mesma. Eram os olhos que se encontravam quando mirava o espelho.

Aquele rosto magro bonito. Aquela pele lisa. Aquele cabelo liso. Eram os ombros secos. Eram aqueles seios presos ao peito. Era aquela barriga esculpida. Era aquela casca perfeita, guardando um fruto podre. Era a mente doente, no corpo saudável.

O café na mão era uma tentativa de aquecer-se. Talvez até de se manter acordada. Quão perfeita uma vida pode ser? Quanta perfeição ela podia aguentar? Aquela perfeição doía. A perfeição a tornava imperfeita. Precisava livrar-se daquilo.

Cigarros, álcool, drogas. Não, era ela demais. Era exata demais, polida demais. Deus, nem sabia mais se era humana. Alheia, invejava cada um que cruzasse seu caminho. Eles podiam ser o que quisessem, mas e ela? O que ela era? Por que ninguém podia saber?

As cartas que deixou não responderam suas dúvidas. Seus poemas, desenhos... nenhum deles chegou perto. Nem tão pouco a lâmina que cravou em seu estômago. Nem a dor que sentiu. O sangue pingando no chão... não chegaram nem perto.

A porta estava trancada por dentro. Ninguém a visitara. As cartas estavam arrumadas, na mesa, com fotos da sua perfeição. Na varanda, agora esfriava o corpo imperfeito. O rosto destruído. As unhas arrancadas. A adaga cravada exatamente no centro.

Um perfeito cadáver. Perfeitamente morto. Perfeitamente horrível. Perfeitamente exato. Ainda que em um último ato, lá estava ela, deixando seu corpo perfeito pra assumir os erros com sua alma perfeitamente eterna. Perfeitamente.

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Aquela sem erro algum

E ela sabia que podia ser melhor. Acordava todo dia, se via no espelho e acreditava. Sentia que não tinha se perdido, sentia tanta coisa. Nos últimos dias sentia mais. Se via mais. Como podia se odiar tanto? Como sentir aquele gosto amargo e não morrer?

Se questionava, duvidava. Aquele veneno nos pensamentos. Aquelas ideias doentias. Não, não. Não eram doentias. Se a fizessem melhor, como poderiam ser doentias? Mas sentia raiva e embaixo desse véu tudo parecia um pouco mais terrível, um pouco mais caótico.

Não foram seus relacionamentos que a tornaram assim. Não foram seus pais, não foi sua família. Não foi falta de dinheiro, nem talvez tenha sido falta de carinho. Não era falta de sexo e nem falta de humor. Era ela mesma. Eram os olhos que se encontravam quando mirava o espelho.

Aquele rosto magro bonito. Aquela pele lisa. Aquele cabelo liso. Eram os ombros secos. Eram aqueles seios presos ao peito. Era aquela barriga esculpida. Era aquela casca perfeita, guardando um fruto podre. Era a mente doente, no corpo saudável.

O café na mão era uma tentativa de aquecer-se. Talvez até de se manter acordada. Quão perfeita uma vida pode ser? Quanta perfeição ela podia aguentar? Aquela perfeição doía. A perfeição a tornava imperfeita. Precisava livrar-se daquilo.

Cigarros, álcool, drogas. Não, era ela demais. Era exata demais, polida demais. Deus, nem sabia mais se era humana. Alheia, invejava cada um que cruzasse seu caminho. Eles podiam ser o que quisessem, mas e ela? O que ela era? Por que ninguém podia saber?

As cartas que deixou não responderam suas dúvidas. Seus poemas, desenhos... nenhum deles chegou perto. Nem tão pouco a lâmina que cravou em seu estômago. Nem a dor que sentiu. O sangue pingando no chão... não chegaram nem perto.

A porta estava trancada por dentro. Ninguém a visitara. As cartas estavam arrumadas, na mesa, com fotos da sua perfeição. Na varanda, agora esfriava o corpo imperfeito. O rosto destruído. As unhas arrancadas. A adaga cravada exatamente no centro.

Um perfeito cadáver. Perfeitamente morto. Perfeitamente horrível. Perfeitamente exato. Ainda que em um último ato, lá estava ela, deixando seu corpo perfeito pra assumir os erros com sua alma perfeitamente eterna. Perfeitamente.

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Ótica mental cheia de hortelã!

Café forte e sem açúcar!