E me ver de novo como um grande pedaço de nada no sofá já não é tão incomodo. Não é reconfortante me pegar assim de novo, morto, em pedaços estilhaçados pelo chão da sala, mas já não dói como doeu no começo. Me acostumei a empurrar os cacos pro lado, ou a deixá-los exatamente onde estavam, já não mereço mais a auto-piedade do garoto que se culpava, nem posso carregar o orgulho do homem que acredita que fez tudo certo.
E quem faz tudo certo?
Fico assim então jogado a sorte de alguém que não posso reconhecer no espelho. Dilacerado e inconformado de amores retribuídos no escuro de escuros que luz nenhuma consegue afastar. Porque me entreguei de novo a antiga mania de não deixar amar, não amar, não querer ser. Sou o bom e velho egoísta que cometeu os bons e velhos erros. E que não pode deixar de cometê-los porque sente que é neles onde encontra realidade é nos seus erros que pode ver a verdade sem temer. Porque erra sozinho e erra por si próprio. Erra pra assumir que errou, levantar a cabeça e errar de novo. Erra porque assim pode deixar um pouco de si num mundo e numa vida que nunca serão suas. Erra e chora porque assim encontra a humanidade que disseram que ele tinha.
Com o tempo aprendo sobre viver e sobre existir, sobre estar. Com o tempo me desapego de mim e consigo olhar o estranho que tenta me convencer de que nunca fui as coisas em que acreditei. Com o tempo, só com ele, aprendo a deixar. E deixo...
0 comentários:
Postar um comentário